Luta tenaz de Valadares ao Porto

Na <i>Cerâmica</i> e na rua

Com te­na­ci­dade e fir­meza, os tra­ba­lha­dores da Ce­râ­mica de Va­la­dares re­to­maram os pro­testos com im­pacto pú­blico, para exi­girem o pa­ga­mento dos sa­lá­rios de Maio e Julho e do sub­sídio de fé­rias.

Não há ex­pli­ca­ções claras nem com­pro­missos firmes da ad­mi­nis­tração

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Vivem hoje numa si­tu­ação fi­nan­ceira mais pre­cária, com o ren­di­mento ema­gre­cido, de­vido ao lay-off (sus­pensão dos con­tratos de tra­balho) im­posto a dois terços do pes­soal. Mas os tra­ba­lha­dores mantêm a re­volta e a de­ter­mi­nação que têm ali­men­tado esta luta, há mais de um ano (par­ti­cu­lar­mente dura no final de 2011 e início de 2012), pelo pa­ga­mento re­gular dos sa­lá­rios e pelo fu­turo da em­presa e dos postos de tra­balho.

Os pa­trões im­pu­seram o lay-off ale­gando pro­blemas de te­sou­raria e afir­mando cons­tan­te­mente a vi­a­bi­li­dade da em­presa, através de pos­sí­veis en­co­mendas e in­ves­ti­dores. Em fi­nais de Maio, cerca de 200 ope­rá­rios foram co­lo­cados em lay-off, en­quanto cerca de 100 con­ti­nu­aram a tra­ba­lhar. As es­tru­turas re­pre­sen­ta­tivas dos tra­ba­lha­dores as­si­naram um acordo com a em­presa sobre as datas li­mite para pa­ga­mento de sa­lá­rios em atraso.

Até dia 3, sexta-feira, de­veria ter sido pago o mês de Julho. Maio con­ti­nuava em dí­vida. Os tra­ba­lha­dores ti­nham co­nhe­ci­mento de que a Se­gu­rança So­cial também já tinha trans­fe­rido para a em­presa a sua parte (70 por cento) res­pei­tante a Julho, tal como fi­zera com Junho.

Com­pro­misso rom­pido

Mais uma vez, como tantas vezes já su­cedeu neste pro­cesso, o com­pro­misso as­su­mido não foi res­pei­tado pela ad­mi­nis­tração. Na terça e quarta-feira, dias 7 e 8, de­zenas de tra­ba­lha­dores con­cen­traram-se junto à en­trada prin­cipal da em­presa, im­pe­dindo a pas­sagem de vi­a­turas, num blo­queio que de­cla­raram sim­bó­lico e que teve por ob­jec­tivo de­nun­ciar pu­bli­ca­mente o in­cum­pri­mento dos pa­trões e alertar quanto aos dramas que isso causa nas fa­mí­lias dos tra­ba­lha­dores atin­gidos, bem como apelar à so­li­da­ri­e­dade.

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A cé­lula do PCP na em­presa emitiu, no dia 9, um co­mu­ni­cado a apoiar a co­missão sin­dical e a co­missão de tra­ba­lha­dores, e as de­ci­sões que por ini­ci­a­tiva destas ti­nham sido apro­vadas em ple­nário: apre­sentar queixa à Au­to­ri­dade para as Con­di­ções do Tra­balho (ACT) e à Se­gu­rança So­cial, e blo­quear o acesso à em­presa. A cé­lula apelou ainda a todos os tra­ba­lha­dores, tanto os que estão em lay-off como os que se mantêm a tra­ba­lhar, para se unirem na justa luta pelos seus di­reitos.

No dia 10, sexta-feira, uma nu­me­rosa de­le­gação des­locou-se aos ser­viços re­gi­o­nais do Mi­nis­tério do Em­prego, no Porto. Al­guns re­pre­sen­tantes foram re­ce­bidos na ACT. Du­rante a con­cen­tração, no ex­te­rior do edi­fício, foi apro­vada uma re­so­lução que co­meça por lem­brar o mé­rito al­can­çado pela Ce­râ­mica de Va­la­dares e o facto de a vi­a­bi­li­dade não ter sido posta em causa com dados ob­jec­tivos; pelo con­trário, vá­rias vezes foi dito aos tra­ba­lha­dores que a em­presa teria en­co­mendas para dé­cadas de la­bo­ração. As di­fi­cul­dades de te­sou­raria «con­ti­nuam a não ter ne­nhuma ex­pli­cação con­creta».

Os tra­ba­lha­dores afir­maram-se dis­postos a con­ti­nuar a luta pelo pa­ga­mento dos sa­lá­rios, exi­gindo que a ad­mi­nis­tração res­peite os com­pro­missos as­su­midos e que a ACT e a Se­gu­rança So­cial (para cujas ins­ta­la­ções de­pois se di­ri­giram) te­nham uma ac­tu­ação firme.

Na re­so­lução, di­vul­gada pelo Sin­di­cato da Ce­râ­mica do Norte, da CGTP-IN, ficou também ex­presso o re­púdio da po­lí­tica se­guida pelos úl­timos go­vernos, que tem ati­rado o País para a re­cessão.

Uma de­le­gação da Or­ga­ni­zação Re­gi­onal do Porto do PCP, da qual fez parte Ilda Fi­guei­redo, do Co­mité Cen­tral, acom­pa­nhou esta acção, trans­mi­tindo aos tra­ba­lha­dores a so­li­da­ri­e­dade do Par­tido e in­cen­ti­vando-os a per­sis­tirem na luta contra o Có­digo do Tra­balho, contra este Go­verno e contra a po­lí­tica que ele pros­segue.

Um novo ple­nário de tra­ba­lha­dores iria ter lugar an­te­ontem, para fazer o ponto da si­tu­ação e tomar de­ci­sões.




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